Órgão da Igreja Católica afirmou que acompanha ‘com perplexidade’ a possibilidade de instalação da comissão
A Arquidiocese de São Paulo informou que está acompanhando com “perplexidade” a articulação para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de São Paulo, que tem como um dos alvos o padre Julio Lancellotti.
O órgão destacou a importância do padre Julio, que atua em prol da população em situação de rua há décadas. “Na qualidade de Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua, Padre Julio exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade. Reiteramos a importância de que, em nome da Igreja, continuem a ser realizadas as obras de misericórdia junto aos mais pobres e sofredores da sociedade”, destaca o documento.
A CPI, se instalada, terá como objetivo declarado investigar organizações não governamentais (ONGs) que supostamente fornecem alimentos, utensílios para uso de substâncias ilícitas e tratamento aos grupos de usuários que frequentam a chamada Cracolândia, na região central de São Paulo.
O pedido de abertura da CPI foi protocolado na Câmara Municipal em 6 de dezembro do ano passado pelo vereador Rubinho Nunes (União Brasil), ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL). De acordo com apuração do jornal Folha de S.Paulo, o vereador trabalha numa articulação para que a comissão seja instalada em fevereiro, após o fim do recesso parlamentar. Em seu perfil no X, antigo Twitter, o parlamentar associou Lancellotti a uma “máfia da miséria” ao comentar a instalação da CPI. Na imagem publicada, uma caricatura do padre carrega um rato nos ombros.
Nas redes sociais, a reação à notícia da articulação para a instalação da CPI foi negativa. De acordo com um levantamento do analista Pedro Barciela publicado pelo site ICL Notícias, foram registradas 273,9 menções ao padre Julio no Twitter. Do total, 97,5% foram menções positivas e somente 2,5% negativas.
Lancellotti afirmou, em seu perfil no Instagram, que não pertence a nenhuma organização da sociedade civil ou não governamental que possui convênio com a Prefeitura de São Paulo. A atividade da Pastoral de Rua, coordenada pelo padre, é “uma ação pastoral da Arquidiocese de São Paulo, que por sua vez, não se encontra vinculada de nenhuma forma, as atividades que constituem o objetivo do requerimento aprovado para criação da CPI em questão”, explica o texto.
Não é a primeira vez que Lancellotti é alvo de setores conservadores da Câmara Municipal de São Paulo e de movimentos de extrema direita. Em outubro de 2020, Arthur do Val, colega de Rubinho Nunes dentro do Movimento Brasil Livre (MBL), foi condenado pela Justiça após chamar Lancellotti de “cafetão da miséria”.
Fonte: Brasil de Fato | São Paulo (SP)