Não, esse não é um apelo em forma de texto produzido por um agrônomo saído da UFERSA, e nem se pretende florear este artigo com tecnicidades em sua abordagem – adiante os dados se encarregarão de chamar a atenção. Também não se propõem novidades aos navegantes – até porque a roda já foi inventada vai algum tempo. A ideia aqui, por compromisso colaborativo neste espaço, é tratar sobre alternativas econômicas e sociais que, de algum modo, possam impactar positivamente o dia a dia de potiguares, especialmente daqueles que vivem sob o sol do Oeste deste estado.
Nesse sentido, um norteador adequado à tarefa é olhar para experiências que deram certo em outros lugares, notadamente para os que guardam similaridades com nossa região, em termos de potencialidades. E aí, entre tantas opções que poderiam ser abordadas aqui, considerando o contexto econômico e político atuais do país, temos uma que, sequer, carece de grandes mudanças para ser viável: a criação do perímetro irrigado de Mossoró, a exemplo dos que existem em várias partes do mundo, em diversos estados brasileiros, como Paraíba, Ceará, Sergipe, Bahia e Pernambuco, e também aqui mesmo no Rio Grande do Norte, nas regiões de Pau dos Ferros, Apodi e no Vale do Açu.
No caso do RN, Mossoró carrega alguns diferenciais estratégicos em relação aos exemplos dos casos existentes: a sua localização geográfica singular, vértice entre duas capitais (Fortaleza e Natal), como ponto médio logístico entre 4 estados (CE, RN, PB e PE), em que encontra-se pujante infraestrutura portuária para escoação da produção; sua extensão territorial, como maior do estado, congregando quase 140 comunidades rurais, possibilita uma variedade de alternativas; o potencial hídrico existente, em que o município situa-se próximo a menos de 100km das barragem Armando Ribeiro Gonçalves (Assu), Santa Cruz (Apodi) e Umari (Upanema), além de entrecortado pelo rio Mossoró, no trecho do ramal Apodi-Mossoró da transposição do rio São Francisco; a existência de universidade vocacionada ao segmento agrícola (UFERSA).
Mas qual seria o modelo a servir de parâmetro para Mossoró? O do perímetro irrigado do pólo de desenvolvimento Petrolina/PE-Juazeiro/BA, cidades de porte populacional similar ao da terra de Santa Luzia, e que implementado em meado dos anos 1980, e que desde então tornou aquela região um vetor de pujança econômica e social, além de contribuir para mitigar a pobreza.
Apenas o Projeto Público de Irrigação Nilo Coelho, em Petrolina, de acordo com informações da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) para o ano de 2022, dá uma mostra da dimensão de relevância para a região:
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22 mil hectares de área irrigada;
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2 mil pequenos produtores;
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400 empresas;
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23 mil empregos diretos;
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34,6 mil empregos indiretos;
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7,8 mil empregos induzidos;
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R$ 2 bilhões em faturamento anual;
Os números de Petrolina, por si, justificam a investida e a priorização, por parte da classe política local e estadual, em projetos semelhantes. Afinal de contas, poucos lugares reúnem melhores características do que Mossoró, no semiárido nordestino, para implementação de projetos econômicos voltados à atividade agrícola.
Para efeito de comparação, conforme dados mais recentes do IBGE (2021), Mossoró tinha um PIB de R$ 8,1 bilhões, dos quais menos de R$ 185 milhões (2,2%) eram originados na agropecuária, o que mostra o enorme espaço que há para crescer nesse segmento. E aí o potencial agregado no perímetro irrigado de Petrolina, se transposto para a realidade de Mossoró, em médio prazo, poderia representar um ganho equivalente a até 25% do PIB, 11 vezes o incremento agrícola e alcance de empregabilidade de até 20% da população.
Mossoró tem muitas alternativas capazes de diversificar sua economia e elevar seu desenvolvimento para patamar de destaque não apenas estadual, mas em nível de região nordeste. Essa é apenas uma das opções. Já pensou: e se Mossoró tivesse um perímetro irrigado?