Para os mais confiantes pode ser apenas uma fotografia, contudo, sabe-se que fotografias traduzem sentimentos, momentos e, acima de tudo, provocam reflexões…
Natural de Antônio Martins, todavia, com raízes familiares e vínculos em Martins, sempre estive atento aos acontecimentos da Serra. Hoje com domicílio também em Mossoró, apesar da distância geográfica, nossos olhares para Martins são os mesmos.
Estive em Martins por quase uma semana durante o feriado de carnaval, tema, aliás, (carnaval da serra), sobre o qual comentarei em outra oportunidade.
Por lá, durante esses dias, um “fato” (político) ascendeu o que pode ser sinal de alerta para uns e de esperança para outros.
Trata-se da foto/encontro entre líderes da oposição com Gileno Oliveira, aliado importante e histórico do atual grupo que governa a cidade
A fotografia, talvez despretensiosa, ao lado dos médicos Ivonezio Queiroz, Netinho, dos empresários Fernando Gondin e dos irmãos Rubens e Rener, além do ex-vereador Françoar, hoje sem mandado devido a cassação da nominada do “DEM”, mas que em 2020 foi o campeão de votos, obtendo com 528 votos, foi e continua sendo assunto mais comentado da cidade.
É que se espalhou o comentário sobre a possibilidade de Gileno ser candidato a prefeito pela oposição.
Mas porque tanto alvoroço?
Um dos pontos que mais gera entusiasmo na oposição martinense é sem dúvidas o fato de Gileno e sua família serem historicamente pilares de sustentação do grupo situacionista, seja pela volumosa família, com raízes tradicionais na cidade, seja pela generosa participação dele nos pleitos municipais, atuando decisivamente nos bastidores em prol do grupo que hoje se encontra sob o comando da prefeita Mazé Gurgel (UB).
Vale registrar que, em 2020, o nome de Gileno foi ventilado como possível candidato da situação, fato que na prática não se concretizou.
Outro ponto que tem gerado entusiasmo nas lideranças que compõe o bloco oposicionista é o fato de que em Martins, historicamente existe uma oposição consistente com votações que sempre alcançam em torno de 47 e 48% dos votos válidos.
VEJAMOS O PANORAMA DAS ÚLTIMAS 3 ELEIÇÕES NA CIDADE:
– Nas ELEIÇÕES DE 2012, OLGA FERNANDES (DEM), venceu as eleições com 51,16% (2.922 votos) dos votos válidos, tendo HAROLDO (PSB), candidato pela oposição, alcançado o percentual de 48,84% (2.789 votos) do eleitorado.
– Nas ELEIÇÕES DE 2016, OLGA FERNANDES (DEM), candidata a reeleição, venceu o pleito com 52,88% (3.184 votos), tendo DR. NETINHO (PSB), candidato pela oposição, alcançado o expressivo percentual de 47,12% (2.837 votos) do eleitorado
– Nas ELEIÇÕES DE 2020, MAZÉ GURGEL (DEM), que já havia sido prefeita do município, venceu as eleições com apenas 52,88% (2.953 votos) dos votos válidos, tendo o candidato da oposição, Chicão de Antônio de Clemente (republicanos) alcançado a marca de 47% (2.631 votos) do eleitorado.
Registre-se ainda, que em 2020, a candidatura de Chicão enfrentou todo o período eleitoral sob a desconfiança do eleitor, uma vez que o mesmo teve o registro de candidatura indeferido, logo após as convenções, disputando o pleito inteiro “sub judice”, fato extremamente prejudicial para qualquer candidatura.
Feita essa simples análise dos números, nota-se de forma muito clara que em Martins é o “DETALHE” que vem decidindo as eleições.
Apegados exatamente “ao detalhe”, é que a àqueles que fazem oposição na serra se encontram otimistas com a possibilidade ventilada de que Gileno possa romper com a situação para integrar o bloco contrário a continuidade do sistema político que vem governando a cidade.
Por essas e outras razões, a fotografia tratada como “fato novo” é sinal de alerta para uns, ou seja, para o grupo da atual prefeita Mazé Gurgel, e de esperança para outros (leia-se, oposição).
Será Gilene candidato pela oposição?
Não me arisco a afirmar, acredito ser até improvável, contudo, se tratando de política, essa palavra não faz parte do vocabulário, até porque corre nas veias de Gileno o sangue de família política.
Penso que Gileno (e àqueles que o cercam) tem hoje muito mais força o peso de decidir (ou continuar a decidir), campanhas em Martins.
A oposição, por sua vez, apesar do “fato novo”, mostra-se fragilizada, e isso ninguém pode negar, pois até a presente dada busca uma candidatura competitiva, a exemplo da sedução para que Gileno seja esse nome.
A prefeita Mazé e seu grupo, por sua vez, encontram-se hoje (15/02/2024) mais organizados para o pleito. Afinal de contas, trata-se de sua reeleição.
Muito embora após a cassação da nominata do DEM, a prefeita tenha perdido a base na Câmara Municipal e até hoje não conseguiu mais do que dois vereadores aliados no poder legislativo, o que demostra claramente uma fragilidade abissal em sua articulação política, e isso poderá custar caro no pleito que se avizinha.
Se eu pudesse dar-lhe um conselho político, seria para “cair em campo”, conversar com os aliados e apagar qualquer tipo de eventuais arestas (com o próprio Gileno), caso existam, pois as porcentagens com que a situação vem vencendo as eleições em Martins não é, nem de longe, uma “gordura” que se possa queimar.
Atual gestão de Mazé é fraca, tem fraturas perigosas, município de Martins não esta bem cuidado.
Se este advogado que escreve essa coluna estivesse no lugar da prefeita, nessa conjuntura que se apresenta, evitaria (ou ao menos tentaria evitar) disputar as próximas eleições contra Gileno ou com sua ausência no grupo, pois as eleições de Martins sabemos apenas como começam, nunca como terminam.
O tempo vai dizer.
Cesar Amorim – É Advogado especialista em Direito Público e Procurador Municipal.