O artigo 1º da Constituição Federal de 1988 deixa claro em seu parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Na teoria, tudo perfeito. Na prática, o jogo é outro.
Após o segundo do turno das eleições municipais de 2024, analistas, políticos e comentaristas de política têm sufocado o noticiário (e as redes sociais) com uma obviedade: nem Lula nem Bolsonaro, quem ganhou foi o centrão. E vão além, afirmam que o resultado foi “surpreendente”.
É fato que Lula e Bolsonaro não conquistaram grandes vitórias. Apesar de ambos os partidos crescerem no número de prefeituras e aliados políticos, os números mostram que o centrão foi muito superior. O PT, por exemplo, elegeu apenas 252 prefeitos em todo o país, e 1 prefeito de capital. Já o PL, de Jair Bolsonaro, abocanhou 516 prefeituras, e 4 capitais. Enquanto isso, o centrão comandará mais de 3.500 cidades, representando 63% das prefeituras do país.
O centrão cresceu, é óbvio, mas isso não deveria surpreender os operadores da política. Desde a redemocratização, a balança do poder no Brasil é administrada pelo centrão e seus representantes.
É do centrão a articulação política no Congresso Nacional desde o governo Sarney, que depois foi apelidado carinhosamente de presidencialismo de coalizão no governo FHC. É do centrão a política econômica adotada no país desde a implantação do plano real. Foi o centrão que ocupou a cadeira de vice e partilhou do sucesso econômico e social dos governos Lula I e Lula II. Foi o centrão que, então aliado de Dilma Rousseff, trocou a petista por Michel Temer, pavimentando o caminho para a ascensão do bolsonarismo. Atualmente, é o centrão quem comanda vários ministérios no governo Lula, enquanto ocupa a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
Todo o poder no Brasil emana do centrão, e isso não é surpresa pra ninguém.
O que o resultado das eleições 2024 realmente demonstraram foi o verdadeiro tamanho desse agrupamento, que ocupa um enorme espaço no centro do universo político brasileiro, enquanto é orbitado por políticos e partidos que disputam sua generosidade momentânea.
José Borges Neto – especialista em assessoria parlamentar e graduando em gestão pública.